quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Um período de tom menores.

Carlos Nelson Coutinho, com sensibilidade e rigidez intelectual localizou em três músicas a expressão da música popular, "adequada em seu plularismo e sua complexidade - às necessidades dos novos tempos", o período crítico pelo qual passava boa parte da sociedade brasileira durante a ditadura civil-militar, especificamente pós ato institucional N.º 5.

Um período em que o alijamento político, o esvaziamento cultural e as atrocidadades cometidas pelos agentes civis-militares foram elevados à enéssima potência. Em Sinal Fechado (1969) de Paulinho da Viola, Janelas Abertas (1971) de Caetano Veloso e Construção (1971) de Chico Buarque, temos a possibilidade de compreender a intensificação de um processo em desenvolvimento "da cotidianidade capitalista moderna que o capitalismo monopolista de Estado ia implantando em nosso país".

Não à toa, as composições são predominantemente em tons menores, destacando a melancolia e revelando o sentimento de angústia que marcava presença durante a criação artística daquele momento. Esta ênfase nos revela um período de tom menores, de dor, de desestruturação da sociedade civil e, por outro lado, a ampliação da hegemonia conservadora nos meios de comunicação e o início da massificação na indústria cultural, do surgimento de novos artistas que viviam e iriam viver no "intismo à sombra do poder", fazendo "apologia do existente".

Ainda bem que podemos contar com aqueles que contrariavam com inteligência aquela burrice vivida.


                              Sinal Fechado - Paulinho da Viola




                                    Construção - Chico Buarque

 

Janelas Abertas - Letra e música de Caetano Veloso
por Maria Bethânia. 
 

 
Esse post é orientado pela obra - A democracia como valor universal, de Carlos Nelson Coutinho e dedicado em memória à Carlos Alexandre Azevedo, vítima da brutalidade da ditadura civil-militar brasileira.